Papai era ferroviário da Estrada de Ferro Sorocabana, que muitos anos depois virou a FEPASA. Meu tio
era chefe da estação de Jaçanã, por isso eu sei que não tinha o trem das onze do Adoniran.
Muitos e muitos domingos da minha infância foram passados dentro dos vagões estacionados no pátio da
estação do meu tio.
Meu irmão Jô e eu às vezes ficávamos lá, horas, ouvindo as histórias que minhas primas Wilma e Nilza
nos contavam. Ou corríamos pelos vagões, brincávamos nos trilhos. Às vezes andávamos de troller, uma pranchona
com rodeiros, e até mexíamos nos desvios.
Aos 19 anos, fui também trabalhar na Sorocabana, no Departamento de Tráfego, na parte comercial da ferrovia.
O escritório era na Estação Júlio Prestes. Aí eu via trens praticamente todos os dias. E até hoje me emociono quando
vejo passar uma composição. Trabalhei um tempo em Barra Mansa, Rio de Janeiro, e o trem corta a cidade. A cancela baixava,
os carros e as pessoas paravam. Elas reclamavam. Eu adorava!
O Guilherme Godoy, meu chefe na Sorocabana, foi quem acabou me conduzindo ao Jornalismo.
Tudo isso pra contar que eu adoro trem elétrico. O primeiro eu ganhei de minha mãe, quando já tinha
44 anos, no Natal de 1988!
Hoje tenho nove locomotivas, trinta e poucos vagões, algumas estaçõezinhas e casinhas, muitos metros
de trilho, vários desvios.